quarta-feira, janeiro 16, 2002

Ontem fizemos três enfiadas da via Roda Viva no morro Babilônia, ao lado do Pão de Açucar. Voltamos por causa do tempo.
De noite o cara da cantina do condomínio do Hugo colocou sal, no lugar do açucar, no suco de manga da Maraisa.
Hoje pegamos uma praia de manhã e a tarde fomos escalar com o Ralf, um escalador muito conhecido daqui do Rio, amigo do Hugo. O problema é que choveu e não pudemos fazer nada.
Amanhã pegamos a estrada de novo. Vamos para São Bento do Sapucaí, para Pedra do Baú. Tomara que não chova!!

domingo, janeiro 13, 2002

Esperem em breve mais notícias dessa viagem.
O Hugo manda um "hello!!!" estamos (o Nenê, a Maraisa e eu) aqui no apartamento dele no Rio.
Meu, você não acredita a galera que tem aqui, é quase uma rave.
Escalamos muito em Minas e agora pegamos tempo ruim aqui no Rio. Espero que o clima melhore amanhã.
Também espero que minha irmã esteja bem lá na terra dos cangurus.

sexta-feira, janeiro 04, 2002

O Senhor dos Anéis é sem dúvida um dos filmes mais legais que já vi.
Quais os outros?
Blade Runner, Gattaca, Coração Valente, O Tigre e o Dragão, Matrix, A História sem Fim, Feitiço de Águila

quarta-feira, janeiro 02, 2002

Feliz 2002 a todos!
Estou torcendo muito para que a chuva pare. Devo ir á Serra do Cipó semana que vem, será que vai dar certo?
O Dedo de Deus, um pico de 1675m escalado pela primeira vez em 9 de abril de 1912 por José Teixeira Guimarães e seus companheiros, fica na Serra dos Órgãos entre Teresópolis e Petrópolis num trecho da Serra do Mar.

Há muito tempo quero conhecer este pico, a oportunidade veio agora.
Saí de Marília na manhã do dia 11 de Outubro de 2001 e fui a Ribeirão Preto pelo Expresso Adamantina, a melhor opção para esta viagem (a outra opção, Fergo, considero inexistente). O horário da saída era oito e vinte e cinco da manhã. Parti com algum atraso e cheguei a Ribeirão às 13:20 horas. O ônibus faz quatro paradas e às vezes pega alguns passageiros muito fedorentos. É preciso estar preparado.

Chegando em Ribeirão liguei para o Fabiano que estava com o celular desligado, mais tarde soube que ele estava em reunião. Liguei para o Barboza e descobri que ainda não me acostumei com a quantidade de números que é preciso para se fazer uma ligação interurbana para celulares, põe-se o zero do DDD, não põe, código da operadora, número não existe, tente outra operadora...Enfim, o Barboza tentaria falar com o Fabiano e comunicou que o Casagrande se atrasaria.Talvez, então tivéssemos que fazer algumas mudanças em nossa programação.
Fiquei esperando na rodoviária que estava passando por reformas, nada muito grande. Cimentavam algumas alvenarias no saguão de entrada, não sei se eram bancos ou balcões.
Um exercício fascinante, esse de ficar sentado numa rodoviária movimentada. Os tipos mais estranhos que você já viu passam na sua frente, certamente achando que você é o tipo estranho que eles já viram.
Depois de um tempo o Fabiano chegou. Saíra mais cedo do trabalho porque, imagine você, no prédio onde trabalha poderiam ter sido postas bombas. Será que nossos prédios também viraram alvos para os terroristas do Taleban? Tudo não passou de um trote, felizmente. Apenas alguém se aproveitando da atual histeria coletiva, com relação aos atentados dos nos EUA, para causar alguma confusão ou desviar a atenção da polícia, quem sabe? Seria mais um arquivo X? É, a verdade está lá fora.

Fomos fazer compras.
Ao contrário das outras vezes, optamos pelas comidas liofilizadas. Acreditávamos que teríamos que carregar toda a bagagem até a base da montanha e queríamos reduzir o peso ao máximo. A informação que tínhamos era de uma caminhada de seis horas até a base do Dedo de Deus.
Esperamos, no apartamento do Fabiano, pelos dois que viriam de Uberlândia.
Conheci a esposa e a filha do Fabiano. Muito simpáticas as duas. Ah, obrigado pela pizza, pessoal! Estava muito boa.
O Barboza e o Casagrande chegaram mais ou menos ás 22 horas. Como perderam a pizza fomos ao McDonald’s.

Dirigimos a noite inteira revezando no volante. Acredito que meus amigos não tenham ficado muito contentes quando chegou a minha vez de guiar. Continuo afirmando que foi o “guard rail” que pulou na frente do carro para nos pregar um susto.
Chegamos em Teresópolis lá pelas oito da manhã do dia 12 de Outubro, sexta-feira. Um dia muito bonito e ensolarado.

O Parque da Serra dos Órgãos fica dentro da cidade. Muito interessante isso. Pode-se comer uma pizza e voltar para o “camping” em poucos minutos.
Na entrada pagamos para ter acesso à trilha para a Pedra do Sino que começa dentro do Parque, doze 12 reais e mais seis reais para dormirmos uma noite no camping. Na verdade dormimos duas noites, mas há um desconto para quem fizer a trilha para a Pedra do Sino. Para ir ao Dedo de Deus não se paga nada, pois, a trilha fica fora do parque, na estrada.

No Parque tudo estava fechado, só abriria ás nove horas. Numa loja de montanhismo encontramos uma pessoa que também não tinha muitas informações para dar. Precisávamos de croquis das vias do Dedo de Deus.
Se você pretende ir pra lá um dia desses, vá atrás desse material com antecedência. Procure na Internet, em lojas de alpinismo, clubes de montanhismo, Mountain Voices, etc. Não espere achar essas informações no local.

Voltamos à cidade para tomar café numa padaria. Quando saíamos algo engraçado aconteceu. Um homem que havia juntado latas vazias chamou um mendigo para lhe dar as latas. O mendigo se aproximou e, ignorando o saco cheio de latas de alumínio, se apoderou de uma garrafa de cachaça novinha que estava no porta-malas do carro do homem.
-Você que me chamou - avisou o bêbado, balbuciando. – Você que me chamou...
O homem deve estar até hoje atrás do bêbado e da garrafa. Ah, o vício...
Outro senhor nos informou sobre uma loja de montanhismo existente no shopping da cidade. – Deve estar aberta – disse. Fomos até lá. Fechado.

Retornamos ao Parque para fazer a trilha da Pedra do Sino. São 11,5 quilômetros de uma trilha muito bem conservada. A maior parte da trilha é na sombra às vezes, quando a vegetação se abre, temos um visual incrível da cidade lá embaixo.
Encontramos algumas pessoas na trilha. A maioria vai à Pedra do Sino para passar a noite e voltar no dia seguinte, de modo que todos que encontramos pelo caminho estavam com alguma bagagem. Nós também estávamos carregados, mas só pra treinar um pouco e fazer um aquecimento para o dia seguinte. Nossa intenção era voltar naquele mesmo dia. O Barboza deve ter levado a casa inteira para aquele exercício.
Durante a trilha passamos por algumas cachoeiras. Numa delas há uma grande pedra que dá um “boulder” muito legal, o problema é que tem muito limo crescendo na pedra deixando-a escorregadia, ou seremos nós que precisamos de mais treino? Não, a pedra realmente estava com limo. Claro que um de nós tinha o benefício da altura, certo Casagrande?
Lá pelo meio dia, paramos para almoçar, no meio do caminho mesmo. Comemos maçãs, chocolate e pão com queijo e salame. A química disso tudo foi muito ruidosa, mas o lanche estava saboroso.
Os outros eu não sei, mas confesso que cansei um pouco, não que a trilha fosse difícil ou íngreme demais, é que viemos rápido. Isso é que dá ficar assistindo Dragon Ball Z na TV ao invés de fazer um pouco de exercício.
No final da trilha há um alojamento e uma clareira onde se pode acampar. Terminamos nossa caminhada em menos de quatro horas. Descansamos um pouco e pegamos algumas informações para o Dedo de Deus com o pessoal que toma conta do alojamento. Deixamos as mochilas na varanda e fomos até o cume da Pedra do Sino, uns quinze minutos dali.
Passamos pela Pedra da Baleia, encontramos uns manos olhando o visual e bebendo água. Depois de uma rápida aderência, não é preciso fazer o caminho pela aderência, chegamos ao topo do parque, o cume da Pedra do Sino. Há um marco de concreto marcando o local. Dois casais fotografavam e vislumbravam o panorama. Após algumas fotos cada um deitou num canto para curtir o sol forte.
Acordei com o Fabiano andando. Já era hora de voltar. Pegamos nossas mochilas e começamos o regresso. A volta sempre é mais rápida. Encontramos algumas pessoas indo para o camping lá de cima. Certamente fariam boa parte da subida no escuro.
Passamos o tempo relembrando algumas passagens do livro Musashi, a biografia de um famoso samurai. Deveria ser muito interessante viajar pela mata no Japão feudal com aquele monte de ninjas jogando shurikens na sua cabeça.
As luzes do belo dia já haviam ficado para trás quando estávamos quase de volta. Mesmo à noite a trilha tem suas belezas. Muitos vaga-lumes nos escoltaram até o acampamento. Por toda volta as luzes verdes acompanhavam nossos passos como pequenas fadas ou feitiços expelidos por uma varinha de condão, um momento “Harry Potter” de nossa viagem.

Outro momento mágico de qualquer um desses passeios que fazemos é, sem dúvida nenhuma, o jantar, também chamado hora do rango. Este seria mais facilmente preparado que em outras ocasiões. Como já disse, optamos por aquelas refeições prontas liofilizadas, no entanto, mesmo para estas, alguns incrementos são muito bem vindos. O arroz com cogumelos (comestíveis) e feijão preto desse dia, por exemplo, teria ficado muito bom se tivéssemos acrescentado uns pedaços de paio.
Armamos o fogareiro sobre uma mesa de pedra. Havia muitas formigas pelos arredores, mas não eram elas que preocupavam nosso amigo Fabiano. Seis pernas não são suficientes para incomodá-lo, agora, oito pernas já é outra história. No final ele acabou se convencendo que as aranhas são nossas amigas e o máximo que uma delas poderia fazer seria morde-lo.
O Casagrande foi tomar banho na represa ao lado enquanto o jantar não ficava pronto, depois foi o Barboza e depois fui eu. A água estava fria e justamente quando lavava o que me é mais precioso um “flash” me ofuscou, nem é preciso dizer que era o Barboza tirando meu retrato mais sexy para colocar na Internet. - “Aproveitam-se de minha nobreza”.
Fizemos um bivaque por lá mesmo. Cada um escolheu um canto mais ou menos protegido do sereno e estendeu o saco de dormir. As luzes da cidade clareavam um pouco o céu, mesmo assim víamos muitas estrelas. Estava uma noite bonita, um pouco fria, mas bonita.

No outro dia acordamos dispostos. Era o grande dia. E estava nublado. Tomamos café e arrumamos as coisas para a escalada do Dedo de Deus. No dia anterior descobrimos que a trilha até a base do Dedo levava uma hora apenas e não seis como achávamos. Então descartamos a idéia de dormir na base da montanha. Levamos o mínimo de comida e material de escalada.
Antes de chegar em Teresópolis há uma mercearia e um restaurante de comida mineira com um grande estacionamento na frente. Antes do restaurante, mais ou menos uns quinhentos metros antes, há uma curva com uma santa num altar de pedra à esquerda de quem sobe a estrada. Pode-se parar o carro nesse local. Descendo mais uns cento e cinqüenta metros a pé, exatamente ao lado do terceiro bueiro, depois de uma curva, começa a trilha íngreme para o Dedo de Deus.
Tentamos parar o carro no estacionamento do restaurante. Um funcionário veio pedir para pararmos em outro lugar para não atrapalhar o movimento de clientes. Paramos em frente à santa.

Começamos a trilha ás 8:55 horas.
Um caminho relativamente fácil, bem mais fechado e inclinado que a trilha do dia anterior, mas não forçamos muito e foi possível fazê-lo sem grandes esforços. Exatamente uma hora depois começaram os lances mais difíceis. O primeiro foi uma escalada de uns quinze metros. À esquerda havia alguns grampos que possibilitavam escalar costurando a via e à direita, havia uma corda alaranjada instalada para ajudar a subir pelo caminho molhado e escorregadio.
Vestimos as cadeirinhas, pegamos o equipamento e subimos pela corda.
Difícil dizer quanto tempo esta corda está lá. Confiamos nela assim mesmo. Da próxima vez escalaremos pelos grampos, muito mais seguro, acreditamos.

Num platô amoitamos uma das mochilas com parte da comida e da água. Pusemos a outra parte da comida, maçãs, chocolate e água, e os anorakis na mochila menor e prosseguimos pelos próximos três lances feitos com a ajuda de cabos de aço presos a grampos. Atrelamos as solteiras aos cabos só para um efeito psicológico.
E assim seguiu o caminho com trechos com cabos de aço, trechos com cordas, e trechos subindo pelas raízes das árvores.
Chegamos então à escalada, propriamente dita. Após um lance onde havia uma corda de perlon roxa, fomos para a esquerda aonde chegamos a uma escalada vertical de doze metros com uma passagem com um cabo de aço no final.
Aqui largamos os anorakis e as botas. O Barboza guiou a escalada e instalou uma segurança num patamar para os outros subirem. Fui o segundo. Sofri uma pequena queda logo no início devido a um desequilíbrio. Numa passagem negativa bem abaixo do lance com o cabo de aço o Casagrande sugeriu um posicionamento em oposição que facilitou bastante a passagem.
Neste platô, quando as nuvens se abriam, tínhamos uma vista excepcional de outras duas montanhas logo à frente.
Em seguida o Casagrande subiu sem a ajuda do cabo de aço no final e depois o Fabiano que esfolou um pouco os joelhos no percurso.
Enquanto o Barboza dava segurança para o Fabiano subir, o Casagrade e eu fomos para a próxima etapa da subida. Um poço à frente começava uma chaminé muito estreita, mais tarde saberíamos que se tratava da Chaminé Arranca Botão, e arranca mesmo. Logo na entrada havia um pouco de guano ou de ave ou de morcego, não sei dizer.
Em frente havia uma pequena caverna pela qual era preciso rastejar. Não havia luz. O caminho seria subindo um pouco e daí saindo para o lado de fora novamente por uma abertura superior onde havia dois grampos de parada. Não consegui subir pela chaminé muito estreita e um pouco escorregadia.
Começamos ouvir vozes vindas de cima. Um pessoal que havia chegado ao cume estava descendo. Dois caras e uma garota, Sérgio, Leandro e Flávia. Um pessoal de Juiz de Fora, MG, do Clube Integrado de Montanhismo. Nos disseram que faltavam uns cinqüenta metros ainda e que esta não era a via que pretendíamos fazer, a Maria Cebola, mas, a via da conquista de 1912. Sabendo o tanto que ainda faltava desistimos de continuar por causa do horário. Descemos pela mesma trilha acompanhando o pessoal de Juiz de Fora que nos mostraria onde foi que havíamos errado. Um pouco acima do primeiro trecho com cabos de aço há uma bifurcação. Seguimos a trilha maior para a esquerda quando o caminho para a Maria Cebola ficava à direita. Nos despedimos do Leandro e sua turma e fomos dar uma olhada no começo da via. O Fabiano preferiu ficar e nos esperar. Cinco minutos de subida íngreme pelo mato e chegamos ao começo da via aparentemente fácil com trechos mais expostos. Muito legal. Tudo bem. Fica para a próxima vez.
O caminho de volta foi bem rápido. Sem muitos incidentes. Para passar o tempo fiz um breve resumo da estória de Dragon Ball e Dragon Ball Z. Já estava escurecendo e na penumbra um frágil pedaço de bambu pode parecer um sólido tronco para se apoiar, eu bem sei disso. Além disso, alguns escorregões isolados e logo estávamos na estrada lá embaixo.

Subimos até a santa onde largamos as mochilas e as cordas. Embaixo da santa há uma bica, mas desistimos de beber água devido à sujeira deixada pelos turistas.
Mais uma vez lotamos o porta malas com as tralhas e partimos para o Parque da Serra dos Órgãos. Na entrada do parque, a rua estreita e um “big buzão” em nosso encalço nos fizeram seguir em frente. Aproveitamos para dar uma volta pela cidade. Pedimos uma pizza, não pedimos...não pedimos. Voltamos ao Parque onde nos deixaram entrar sem nenhum comprovante de realmente termos pago pelo camping. Que deslize da segurança, hein? Nós pagamos, mas desse jeito qualquer um entra. Um ponto negativo, infelizmente.

Cozinhamos mais perto do carro para não ter que ficar levando as coisas pra lá e pra cá. Era dia de macarrão. Desta vez o rango estava melhor, de qualquer modo faltou o queijo ralado. O Fabiano e eu não xingamos os intendentes porque éramos os próprios. O Barboza e o Casagrande foram pacientes.
Esta noite estava mais fria que a anterior. O Fabiano optou pelo banho Tcheco na bica. O Casagrande optou pelo banho na represa da noite anterior, o Barboza e eu não optamos.

No dia seguinte, sol e calor. Iríamos embora cedo, então fomos procurar alguma escalada lá dentro do parque mesmo.
Atrás da administração há um grande paredão e fomos até lá dar uma olhada. Difícil foi achar a trilha. Entramos nos quintais de umas casas e procuramos até encontrarmos uma entrada no mato depois de um encharcado. Um caminho meio fechado como se há muito não fosse feito. Havia uma escadaria coberta pela folhagem e fitas brancas de plástico amarradas a algumas árvores marcavam uma trilha que dava numa via de escalada. O mato crescia ao longo dela. Eu guiei até o terceiro grampo onde uma moita cobria a passagem. Minha primeira queda foi trazendo uma parte da moita. Depois de mais duas quedas tentando achar um desvio, desisti.
O Casagrande subiu e conseguiu limpar uma boa parte do mato. Enquanto isso, fui mais adiante na trilha para procurar outra via. Encontrei uma aparentemente mais esquecida que a anterior. O início dela ficava na sombra. Estava completamente coberto por musgo, um bonito tapete homogeneamente verde que cobria inclusive o primeiro grampo.
Quando voltei o Barboza estava acabando de limpar o mato lá de cima. E conseguiu passar o lance seguinte, costurando o quarto grampo e caindo no quinto. Já chegava a hora de partir então não terminamos a via. O Barboza desceu para que o Casagrande passasse aquele lance da moita. Depois foi a vez do Fabiano tentar, em seguida fui eu. A vista lá de cima é muito bonita. Era possível ver a Granja Comari onde a seleção brasileira de futebol treina e o resto do Parque.

É isso aí. Foi uma grande viagem. na volta viemos até São José dos Campos onde nos separamos. O Barboza e eu iríamos de ônibus até Sampa onde o primeiro pegaria um avião para Uberlândia e o segundo um ônibus para Marília. Os outros dois seguiram e carro para Ribeirão Preto.
Em Sampa tive que dormir na casa de meus primos porque passagem só havia para o outro dia.
A seguir vão as últimas revisões das mensagens que enviei para cá diretamente da terra dos mangás. Sei que ficaram gigantescas para um blog, mas fazer o que?
Boa leitura.

Dia dezenove de fevereiro de 2001 embarquei num avião da JAL (Japan Air Lines) para minha primeira viagem internacional, na verdade a segunda se levarmos em consideração uma viagem para o Paraguai que fiz há muito tempo.
A primeira vez que voei foi por volta de 1987 em um passeio panorâmico de planador, no aeroclube de Marília. Entrar num avião grande como o 747 da JAL é outra coisa. Tudo meio apertado, mas muito moderno. Meu primeiro pensamento foi de estar entrando numa nave espacial.
Cada poltrona tinha uma TV própria com canais para filmes, videogame (xadrez, gamão, etc), podia-se também ver a parte de fora através de duas câmeras externas, uma no nariz e outra embaixo do avião. Para se ter acesso a tudo isso, inclusive a informações como altitude, temperatura externa, hora local, velocidade e um mapa com o trajeto do avião, bastava mudar o canal. Os filmes ficavam passando continuamente, cada canal passava um filme diferente, assisti aos filmes “Endiabrado”, com Elizabeth Hurley; “Shaggy” e alguns outros que não me lembro agora. Ajudou muito a passar o tempo.
O único problema era que as poltronas eram mais apertadas que alguns ônibus que fazem o trajeto de Marília a São José do Rio Preto.
Em compensação as aeromoças...ah, as aeromoças...eram atenciosas, simpáticas e bonitas.
A comida era muito boa e o banheiro, uma atração a parte.
Diverti-me muito descobrindo o que continha cada gaveta daquele minúsculo compartimento. Achei escovas de dente e creme dental, havia alguns cosméticos como loção após barba, havia papéis para se forrar a tábua do acento do vaso, toalha de papel e, é obvio e ainda bem, papel higiênico, havia também absorventes femininos.
O vaso não tem água e a descarga era muito interessante. Ao ser ativada, um pouco de água molha e aglutina todo o conteúdo do vaso, aí o canal para o esgoto e abre e “SPLATCH”! Tudo é empurrado pela pressão.
Com tudo isso para me distrair mais o medo da “síndrome da classe econômica” (problemas circulatórios que podem surgir devido ao longo período em que se fica sentado nos aviões), a viagem até que passou rapidamente.

Foram aproximadamente 25 horas de viagem com uma escala em Nova York.
Cheguei ao aeroporto internacional de Narita, perto de Tókio, por volta de 15 horas na quarta-feira dia 21 de fevereiro.

A seguir, as cartas que mandei para o Brasil.

Oi pessoal, após um longo inverno eu estou de volta (pelo menos, mais ou menos). Ao contrário do que eu esperava, não achei nenhum lugar público com internet. Esta mensagem lhes chega através de minha irmã Érica.
Também ao contrário de minhas expectativas ninguém aqui fala inglês nem os policiais dos centros de informação (Kooban).
Minha viagem foi muito boa. A JAL tem um excelente serviço de bordo.
Por aqui ainda está frio e tem chovido muito.
O Japão é um lugar esquisito, estranho mesmo.
Aqui, todo mundo pinta o cabelo de loiro ou castanho claro. As meninas andam se equilibrando muito deselegantemente sobre sapatos com um palmo de altura.
É impressionante a quantidade de máquinas de refrigerante, cerveja, saquê, sucos, café e cigarros que existem por aqui. Não posso esquecer de falar das máquinas de selo, bilhetes telefônicos, brinquedos em miniatura, cards colecionáveis, camisinhas, artigos eróticos e fitas pornográficas (estas últimas não eram tão abundantes assim), etc. Literalmente toda esquina tem umas quatro máquinas. E no meio do quarteirão também.
Aqui em Kawasaki (igual muitas outras cidades do Japão, pelo que me disseram), as ruas de bairro não têm calçada e são muito, muito estreitas. Teoricamente os carros trafegam pela esquerda, mas existem ruas tão apertadas que obrigam um dos carros vindo em direção oposta a encostar ou retornar para que o outro passe.
Outra coisa fora do comum é a quantidade de bicicletas.Todo mundo anda de bicicleta. Os velhos, as crianças, aquelas garotas com saltos plataforma, todo mundo. Outro dia vi uma garota de minissaia, guarda chuva, sapato plataforma, casaco de pele e celular pedalando pela rua. E isso é muito comum. Nas calçadas das grandes avenidas você tem que prestar atenção para não ser atropelado pelas bikes.
Eu estou numa cidade litorânea, mas pelos arredores não existem mais praias. Tudo virou industria, por sinal a industria em que trabalho.
Antes, há uns trinta anos atrás, a indústria era na cidade, mas as pressões dos habitantes, que sofriam muito com a poluição, fizeram com que uma parte da indústria fosse instalada em uma ilha artificial construída exatamente para isso. As instalações da indústria são enormes (tanto a porção do continente quanto a porção instalada na ilha artificial). Metade está em Yokohama e metade em Kawasaki (cidades vizinhas). O ônibus interno é gratuito e leva quinze minutos para chegar à minha seção que fica ainda na parte continental da indústria. Infelizmente não se pode tirar fotos lá dentro.
Meu trabalho é desmontar geladeiras, máquinas de lavar roupa, condicionadores de ar e televisores. Este é um setor novo da empresa, de fato, sou um dos primeiros a começar trabalhar lá.
Comigo só trabalham pessoas vindas do Brasil, apenas os chefes são japoneses. Todos são muito camaradas.

Fui dar um passeio pelas redondezas e descobri a estação de Kawasaki. Muito grande e moderna. No saguão há um telão gigante para publicidade de tudo quanto é coisa. Os bilhetes são vendidos por máquinas automáticas, há muitas delas. Grandes mapas com todas as linhas de trem mostram todas as estações e o preço para se chegar a cada uma delas.
O teto muito alto é de vidro e se abre nos dias quentes, demais!
Nas escadas rolantes todo mundo fica à esquerda deixando um espaço para quem estiver com pressa, passar.

Encontrei uma loja muito grande de esportes chamada Sports Depo, Não vendiam nada de escalada, mas havia muita coisa para camping. O pessoal aqui também gosta muito de golfe, beisebol e pescaria.

Aqui não é mais o país dos Pokémons! Pelo menos nesta cidade eu não vi muita coisa. Achei uns card games (desculpe aí Felipe e Thiago, tirei a evolução do Cyther) e só (Na verdade depois descobri que estava errado. Pokémon ainda faz sucesso, inclusive estreou o quinto filme para o cinema alguns meses depois, nessa época, Pokémon era o único desenho que passava duas vezes por semana na TV aberta e existiam muitos produtos com sua marca). Dragon Ball não tem mais, é coisa antiga. Mesmo o Dragon Ball só tem em sebos.
Na TV consegui assistir Digimon Tamers, Sakura Card Captors e Saylormoon. E muitos mais. Ah! Mãe, assisti ao desenho da Sasae-san.
Já aprendi muita coisa do idioma, mas vai demorar até chegar a um nível aceitável.

Yoda, outro dia eu achei a zona daqui. Estava passeando por uma avenida grande e resolvi entrar numas ruazinhas para ver o que tinha. Havia uns estabelecimentos com muitos letreiros em neon e uns caras de terno preto chamando para olhar. Estava passando e de repente vi umas mulheres de biquíni nas vitrines. Muito interessante.

Já andei pensando em o que levar de lembranças para os meus amigos, mas tudo é caro aqui, por isso acho que não vou lhes comprar nada.
Carol, como foi a viagem para o Chile?
Barboza e Mellão, como vai o irmão de vocês, o Adilsão?
Kleber e Kesler, e essa academia, sai ou não sai?

Bom, é isso aí. Espero logo achar uma internet nesse lugar esquisito.
Abraços pros mano, beijos pras mina!
Fim da mensagem.
Ricardo


1º de abril de 2001.

Apesar do dia, tudo que estiver escrito nesta carta é verdade, sério.

Mesmo tendo gente sobrando, continuam chegando trabalhadores do Brasil para o nosso setor. Daqui a pouco ninguém vai ter o que fazer.
Já não sou o caçula da reciclagem. Agora são o Marco e a Patrícia, noivos, ambos com 25 anos mais ou menos. Estão aqui para juntar uma grana para casarem. Eles já trabalham no Japão há oito anos. E dizem que não gostam daqui...
Eles moram num prédio aonde vão os casais. Lá os aptos são maiores e têm uma cozinha. É no mesmo prédio em que moram o Marcos e a Tereza que vieram comigo do Brasil.
Bem, o Marco (caçula) já veio preparado para catar coisas do lixo. Trouxe uma série de ferramentas para pequenos reparos.
Ele já achou um vídeo cassete, um espelho grande, uma máquina elétrica de escrever, um teclado musical, etc. Outro dia ele conseguiu dois micro systems e me deu um. Beleza, pois agora dá pra ouvir CDs.
Na quarta, depois do serviço, fui buscar o som lá no apartamento deles. Eles têm bicicleta e eu ainda não. Assim a Patrícia foi embora primeiro e o Marco foi me acompanhando. No meio do caminho, num terreno, havia uma bicicleta velha jogada fora. Não pensamos duas vezes, arrebentamos a trava dela para eu usa-la. Apesar de estar travada, juro que ela era lixo.
Os pneus estavam meio murchos e os pára-lamas estavam soltos. Ela não tinha freios e a trava quebrada ficava pegando nos raios da roda. Isso mais os pára-lamas soltos faziam um barulho parecido com algo que vem rolando sem controle, ladeira abaixo. Era um misto de carro de recém-casados arrastando latas e Hermeto Pascoal.
No apartamento deles eu acabei filando bóia. Não ia, afinal, no meu alojamento tem jantar, mas quando a Patrícia disse que ia fazer bife acebolado, eu fiquei. Comida japonesa às vezes cansa.
Uma dica de etiqueta que eu inventei. Se a socialite Claudia Matarazzo quiser usá-la, esteja à vontade. É o seguinte: se você esta na casa de alguém na hora do jantar e não avisou previamente que estaria lá ou não foi convidado com antecedência para estar lá, só aceite jantar se a pessoa que for cozinhar insistir para você ficar. Afinal, é ela que vai ter o trabalho de cozinhar para mais um. A comida estava muito boa!

Na volta usei a mesma bike. Só que chegando aqui perto, peguei um caminho diferente. Achando que estava perto do alojamento, larguei a bicicleta e continuei a pé, E não é que me perdi? É impressionante. Aqui parece um labirinto. Todos que já moraram em outros lugares disseram que as cidades se parecem muito. Casas pequenas, apertadas, uma grudada na outra com roupas penduradas na frente e um monte de tranqueira na frente. Ruas estreitas e sem calçada. E não é que eu andei em círculos?! Voltei para onde a bicicleta estava.
Peguei-a de novo e voltei até onde tinha errado para fazer o caminho certo.
Quando cheguei a uma quadra do alojamento eu a larguei encostada num muro.
Uma coisa que acontece muito aqui no Japão: você larga sua bicicleta sem cadeado e alguém a leva emprestada. Pode acontecer dela voltar no dia seguinte se você tiver sorte. Não é exatamente um roubo, o ladrão a pegou não pra ficar com ela, mas para ir para algum lugar. Provavelmente ela será abandonada em algum lugar por aí.

Na TV passa muita propaganda de jogos para PS2 ( Play Station 2) um mais legal que o outro. Ainda bem que não tenho a mínima vontade de comprar vídeo-game, senão...

Na sexta dirigi uma empilhadeira pela primeira vez. É muito legal.
É preciso ter uma licença para dirigir empilhadeiras, assim como para se guiar carros, caminhões, etc. Mas tem uma empilhadeira lá que eles liberam para quem quiser treinar. Lá fui eu. Essas empilhadeiras têm câmbio automático e só é preciso mudar para dar a ré. Achava que fosse difícil encaixar o garfo no estrado, mas até que não. O difícil é empilhar as caixas certinho.
Quando se tem muita carga na frente também não dá para ver o caminho, daí é mais fácil ir de marcha a ré. As empilhadeiras daqui são bem pequenas e tem boa dirigibilidade. Algumas têm até uma balança embutida.

Este final de semana mudei de alojamento. Agora estou num lugar muito melhor. Tem menos gente. Todos aqui são brasileiros, inclusive o zelador. Os quartos têm banheiro, um fogão elétrico de uma boca e frigobar. Com um pouco de habilidade e paciência é possível para cozinhar. Assim que der vou comprar uma panela de fazer arroz, para agilizar o processo. A cama é dobrável para aumentar o espaço do quarto. Estou atrás de uma barra para transformar meu quarto numa academia.
Sábado fui com mais dois colegas no ESPA, uma loja de departamentos que tem um supermercado embaixo. O esquema é o seguinte. Lá oferecem degustações. Tem muita coisa: churrasquinhos, doces, conservas, chocolates, mandju (doce japonês), etc. Dá pra forrar o estomago. Passamos no churrasquinho quatro vezes. O Takahashi até tirou a blusa para disfarçar, porque os vendedores, se percebem que você já passou, tiram a comida da sua frente na maior cara dura.
Como estava chovendo lá fora, fomos dar uma volta pelas lojas.
Ficamos um tempão experimentando cadeiras que fazem massagem.
O Takahashi distendeu o braço no trabalho e ficou procurando massageadores para comprar.
Fomos almoçar (de novo) num restaurante indiano (lá no ESPA mesmo). Assim que nos sentamos percebemos um cheiro de plástico queimando. Do nosso lado, no lixo, alguém jogou um cigarro que começou a fazer a maior fumaceira. Chamamos o pessoal do restaurante e eles vieram tirar o lixo. Já pensou se é uma bomba ou gás sarin (que o reverendo Asahara jogou no metrô há uns anos atrás).
É, fiquei pensando nisso enquanto suava tomando minha sopa super apimentada...

Um abraço a todos.
Ricardo


Kawasaki, 4 de abril de 2001.

Acabei de ver um comercial do Pentium 4. Aí já saiu?
Hoje cozinhei pela primeira vez, foi bem improvisado. Ainda não comprei pratos. Já tinha cozinhado ovos. Descasquei uma cenoura para comer crua. Fervi uns pedaços de cabotiá (abóbora japonesa) e comi almeirão. Ah, como coloquei água demais no cabotiá, aproveitei e fiz um missoshiro (sopa de misso). Comi na panela mesmo. Não estou pretendendo comprar óleo, nem sal, nem açúcar. Também não vou comprar shoyu porque não gosto muito. É, cozinhar para mim mesmo é realmente muito simples.

Segunda-feira, dia 2 de abril, aconteceu uma festa da firma. Disseram que era uma festa para inauguração do setor de reciclagem de eletrodomésticos. Foi num clube da empresa. É um lugar grande parecido com um restaurante japonês daqueles em que se deve tirar os sapatos para entrar. É claro que tinha karaokê.
A festa foi o seguinte: chegamos às 18:30 horas e...(só um instante. Está passando uma coisa inacreditável na TV. Chama-se Food Battle Club. É uma competição para ver quem come mais sushi. Tem a super produção dos programas de “Ultimate Fighting”. Os “lutadores” ficam cada um no centro de uma mesa circular que fica girando com sushis em cima. À medida que comem, um sushiman vai reabastecendo a mesa. Ao final do “round”, ganha quem tiver comido mais. Tem até comentaristas engravatados).
...Bem, voltando à festa da segunda, chegamos às 18:30. Toda a chefia estava lá. Fizeram discursos e brindamos.
Teve muita bebida. A comida era aquela boa, mas pouquinha, daquelas que vêm em vários pratinhos decorados. Refrigerante também tinha pouco. Como eu não bebo, fiquei só na comida.
Dali a pouco começou o karaokê. É impressionante como o pessoal canta bem, falando seriamente. Tem o Kobayashi que é um senhor que fala muito pouco, mas que se revelou um verdadeiro artista. O pessoal é bom mesmo. Devem ensaiar em casa.


Kawasaki, 9 de abril de 2001.

Hoje tomei a segunda dose da anti-tetânica, Não adiantou já ter tomado no Brasil.

Depois de duas ou três semanas sem ter absolutamente nada para fazer, finalmente começaram a chegar os caminhões com as máquinas de lavar, geladeiras, TVs e condicionadores de ar para reciclagem.
Tudo demorou também por causa da nova legislação que regulamenta a maneira como esses eletrodomésticos devem ser jogados fora. Agora, toda a população tem que pagar para isso. Não sei o valor, mas não é barato.
Lá na fábrica foi a maior confusão durante todo o dia. Um pessoal da TV ficou filmando, e atrapalhando, nosso serviço. Encenaram um negócio estranho, uma mulher vinha e dava um buquê de flores e duas garrafas de saquê para o motorista do caminhão. Nós, os figurantes, ficávamos batendo palmas. Ridículo!!!!
Cheguei em casa e assisti à reportagem. Cortaram toda aquela coisa do motorista. Uma pena eu não ter um vídeo-cassete para gravar. A reportagem mostrou bem o lugar onde trabalho.


Kawasaki, 21 de abril de 2001.

Estamos trabalhando muito. Finalmente a legislação da reciclagem de eletrodomésticos está funcionando as empresas começaram a mandar o material para ser desmontado.

No domingo, dia 8 de abril, fomos à uma cidade chamada Yokosuka, distante mais ou menos uma hora e meia de carro. É um lugar também à beira do mar, muito bonito.
Em alguns lugares existem trechos com praia de areia onde vimos muita gente pegando onda numas pranchas que eram puxadas por grandes pipas (kite surfing).
Paramos num tipo de clube onde há um mirante, banheiros, etc. Lá embaixo há um enorme costão rochoso e, então o mar. O costão se estende por muitos metros. Na outra ponta, muitos vão pescar. Este lugar era ruim para nadar, pois as ondas batem diretamente nas pedras.
Tinha muita gente andando pra lá e pra cá. Vi alguns estrangeiros, que desconfiei serem indianos.
De longe o mais legal do lugar eram os falcões. Muitos, enormes. Nunca tinha visto falcões soltos. De cara gastei quase todo o filme só neles. Alguns vinham bem perto.
Procuramos um lugar plano no costão e montamos uma churrasqueira. Havíamos comprado carne que é importada da Austrália, bem barata em termos de Japão (mais ou menos um quilo de alcatra dá uns 900 yens ou nove dólares).
Sempre havia alguém lá de cima do mirante olhando a gente comer. Só nós estávamos fazendo churrasco. A maioria do pessoal leva um obentô (que é um tipo de marmita com comida japonesa).
Éramos oito pessoas, duas mulheres e seis homens. Eu era o mais novo. Depois de comer eu fui dar uma volta pelo costão, pra ver como era. O lugar era bem bonito e o único problema é que estava lotado de gente. Vi algum lixo boiando no mar, infelizmente.
Os japoneses não gostam de tomar sol. Para eles o melhor é ser branquelo. Muitos comerciais de bloqueador solar inferiorizam aqueles que tem a pele mais morena de sol. Resultado, num dia de sol, todos usam camisa e calça comprida, chapéu, capas de chuva e sapatos. Vi algumas mulheres de salto alto andando na areia.
Eu achei um canto numa beirada, tirei o tênis e a camiseta e fiquei deitado tomando sol. Os outros também passearam, dormiram. Foi muito bom.
No dia seguinte começaram a chegar os caminhões com as coisas para reciclagem. De lá para cá nosso ócio se transformou em muito trabalho. Trabalho até demais pro meu gosto.
Bem, chamaram mais brasileiros para trabalhar. A equipe toda se completará até junho.
Estamos fazendo duas horas extras todos os dias e trabalhando aos sábados. O trabalho é pesado. Nem estou correndo mais. Preciso dar um jeito nisso.
O que ajuda é que eu e um amigo que também gosta de montanha, o Sérgio, descobrimos uma loja gigante de alpinismo aqui perto, a ABS. O forte dela são mochilas, principalmente da ARC´TERIX e LOWE ALPINE. Com relação a material para escalada em rocha, uma outra loja em Yokohama, a Kamoshika, é melhor, mas aqui também tem algumas coisas.
Também estou indo a uma piscina da prefeitura de Tsurumi (uma cidade aqui ao lado). Vou de bicicleta. Aqui as cidades são grudadas, como se fossem bairros vizinhos.
Na verdade o lugar é um mini parque aquático. Tem piscina com hidromassagem, piscina com correnteza e tem uma piscina com 25 metros onde quem vai, nada por uma raia e para voltar tem que mudar de raia. É claro que na hora eu não reparei e fui pela contramão. Daí eu percebi que as pessoas mudaram de raia quando eu cheguei, achei que tinha alguma coisa errada comigo, tipo: calção rasgado, cara suja, nariz escorrendo, mas não, daí eu reparei numas plaquinhas com flechas indicando a direção. Então fiquei parado só olhando o comportamento dos nativos e percebi meu disparate. Que coisa! Mas nem deu tempo do salva-vidas chamar minha atenção. Para usar a piscina, pago 800 yens (R$18, 00). Por 2 horas, É meio caro, mas vale a pena. No vestiário, os armários custam 200 yens , Muito espertos esses japoneses, justamente o troco da entrada.
O esquema é assim, os armários ficam abertos com a chave enfiada na fechadura. Você coloca duas moedas de 200 Yens guarda as coisas, fecha a porta, tranca e tira a chave. Se tiver esquecido algo, já era, vai ter que pagar mais 200 yens. Eu, é claro, perdi 200 Yens. Não por ter esquecido alguma coisa pra fora, mas porque eu coloquei as moedas e tranquei sem guardar as coisas no armário. Muito estranho, nem eu entendi. É melhor colocar tudo no armário, depois pagar e aí tirar a chave.
Ao lado das piscinas tem um lugar onde são vendidos por sorteio, móveis usados. São móveis muito bons que são doados à prefeitura e vendidos a preços simbólicos, e por isso, a necessidade do sorteio, porque todo mundo se interessa.
O mais legal do lugar é uma pirâmide de vidro que abriga um jardim, Lá entre as plantas, há algumas mesas onde se pode ler e relaxar. Também tem um laguinho com peixes. Esse lugar é muito bonito.


21 de maio de 2001

Ontem eu e o Sérgio fomos para Yokohama de bicicleta.
Dá um pouco menos que uma hora. É só pegar uma avenidona e seguir reto. Yokohama é aquilo que eu achava que o Japão fosse: moderna cheia de estrangeiros. Contrastando muito com o lugar onde moro.
Achei Yokohama bastante espaçosa. Passei por um prédio de 70 andares. O mirante lá em cima custa 1000 Yens (R$20, 00) para entrar. Deixamos para uma próxima vez. Passamos por uma galeria de arte e por um parque que tem uma roda gigante gigantesca, tudo na beira do mar. Lá perto tem um prédio em forma de nadadeira dorsal de tubarão. Esse prédio eu havia visto num documentário sobre arquitetura que passou na TV Cultura.
Entramos numa galeria onde havia muitas lojas e docerias. Tudo muito caro. Nessa galeria, lá no fundo, de repente saiu um monte de gente, todos na maior estica. Fomos indo contra o fluxo para ver de onde vinham. Estavam vindo de uma sala de palestras. Disfarçamos, demos meia volta, e fomos embora. Duvido que a palestra fosse sobre alguma coisa que nos interessasse. Só havia engravatados, gordos e carecas.
Alguns jogos da copa serão em Yokohama e se não me engano, vimos o Yokohama Dome que está em obras, quase terminando, Muito legal.
Passamos numa padaria compramos uns pães recheados e fomos comer num anfiteatro ao ar livre do tipo grego (com o palco embaixo e as arquibancadas em volta). Tinha um cara europeu fazendo daqueles shows de rua. Atrás do anfiteatro tem uma praça que fica lá embaixo num buraco cujas paredes imitam aquelas construções incas em degraus. Ao fundo tem uma cachoeira e logo em seguida,aquele prédio de 70 andares que já mencionei. Demais!
Nos arredores achamos o Hard Rock Caffee Yokohama. Só olhamos, tudo muito caro.
Naquele prédio de 70 andares descobrimos um mirante que custava 1000 Yens, mas isso acho que já falei. O que eu esqueci de contar foi que resolvemos subir até o 47º andar para dar uma olhada pela janela. O prédio era um hotel, mas também era comercial, por isso era possível ter acesso. Mesmo assim achei estranho não ter ninguém tomando conta. Entramos tranqüilamente de bermudas e mochilas. O 47º andar era de escritórios. Os corredores não tinham janelas de maneira que não dava para olhar a paisagem, Pelo menos compramos sucos numa máquina e usei o banheiro que estava limpinho e tinha daqueles assentos eletrônicos com bidê e ar quente.
Depois passamos naquela loja de alpinismo, a Kamoshika que fica a cinco minutos de bicicleta de onde estávamos. Ainda conhecemos a Tokiu (com i mesmo) Hands. Uma loja de departamentos famosa. Não achei grande coisa. O bom foi que achei uma bomba para bicicleta boa e barata.

Aqui no Japão existem uns boyzinhos que são chamados Boosoozoku. Eles andam numas motos muito loucas. Para aqueles que assistiram ao filme Akira, a turma do Kaneda eram perfeitos boosoozokus. Eles se divertem andando devagar e engarrafando o tráfego nas auto-pistas e provocando os guardas. Não sei se são violentos. Eles usam uns capacetes tipo tigela e óculos que parecem de aviadores da primeira guerra. Parece como capacete da Penélope Charmosa. Parecem vilões saídos de filmes como “Esses fantásticos corredores e suas máquinas maravilhosas”.

AH, já faz algum tempo, a firma me deu, ou melhor,emprestou uma bicicleta. É de um tipo comum por aqui. Tem cesto na frente e farol. Nunca havia imaginado, mas farol em bicicleta é muito útil.
Sexta feira eu e o Carlão, que vai comigo de bicicleta para o trabalho, estávamos saindo de um lugar chamado Yoshinoya (uma cadeia de fast-food que vende um negócio chamado guiudon. Com esse nome poderia ser um dos monstros do Ultra Seven, mas nada mais é do que carne de vaca cortada em tiras muito finas e fritas, sobre arroz com ovo cru opcional), bem, estávamos destravando nossas bikes quando duas meninas de bicicleta, uma guiando e outra na garupa. Ambas de moletom e cabelos cor de café com leite (bastante leite) e tagarelando, quando a bicicleta subiu da rua para a calçada, a menina de trás, com o solavanco, deu um “URGH” bem sonoro. Foi muito engraçado e foi na nossa frente. Contando assim não é tão divertido, mas pelo menos assim fica o registro desse momento impar do cotidiano japonês. A menina, coitada, deve estar com a periquita doendo até hoje,

Então é isso, Estou com muita saudade de todos. Escrevam.Estarei esperando.

Abraços a todos
Ricardo